Espaços públicos em movimento: mobilidade nas manifestações em Belo Horizonte e Rio de Janeiro

Autores

Resumo

O artigo discute a oposição entre espaços públicos e espaços de mobilidade a partir da análise das performances políticas durante manifestações que ocorreram nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro no ciclo de protestos entre 2011 e 2014, no Brasil, período que antecedeu os megaeventos esportivos nas duas cidades. A partir da análise comparada e quantitativa de notícias jornalísticas, identificamos o papel da mobilidade como um elemento central na constituição de uma esfera pública local no que se refere à construção de agendas e na construção de uma espacialidade para a estruturação dos repertórios políticos. Os resultados indicam que os espaços públicos da mobilidade se transformaram em lugares de contestação da ordem, enquanto as práticas móveis se tornaram performances que visavam produzir rupturas nos fluxos para produzir visibilidade para as pautas políticas. No entanto, encontramos diferenças no uso dos espaços públicos cariocas e belo-horizontinos, especialmente em termos do número de manifestações, os tipos de agentes e das estratégias acionadas nos protestos. Indicações iniciais parecem evidenciar que a dicotomia entre estas formas de espacialidade é bastante frágil na compreensão das manifestações políticas contemporâneas.

Palavras-chave:

ações contenciosas, espaços públicos, manifestações, mobilidade urbana, Belo Horizonte (Brasil), Rio de Janeiro (Brasil)

Biografia do Autor

Ana Marcela Ardila Pinto, Universidad Federal de Minas Gerais

Doctorada en geografía, Universidad Federal de Río de Janeiro (UFRJ).
Investigadora del Centro de Estudios Urbanos (Ceurb) y docente del Departamento de Sociología de la Universidad Federal de Minas Gerais, UFMG.

Marcos Paulo Ferreira de Góis, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Dr. en Geografía, Universidade Federal de Rio de Janeiro.
Investigador del grupo de estudio Territorio y Ciudadanía y académico del Departamento de Geografía, Universidade Federal de Rio de Janeiro - UFRJ.

Gustavo Silva Mattos, Universidade Federal de Minas Gerais

Maestro en Sociología y candidato a Doctor de la Universidad Federal de Minas Gerais, UFMG.
Investigador del Centro de Estudios Urbanos (Ceurb), Universidad Federal de Minas Gerais.

Referências

Alexandre, R. W. C. e Balassiano, R. (2012). BRT no Rio de Janeiro: Implicações para a Mobilidade Urbana.

Ardila Pinto, A. M. e Villamizar-Duarte, N. (2018). Ciudad(anía) en movimiento: construcción social de instrumentos de políticas de movilidad en Bogotá y Belo Horizonte 1995-2015. Universitas Humanística, 85(85). https://doi.org/10.11144/Javeriana.uh85.cmcs

Augé, M. (1995). Non-places: Introduction to an anthropology of supermodernity. Verso.

Augé, M. (2021). Los no lugares. Gedisa.

Banister, D. (2018). Inequality in transport. Alexandrine Press.

BHTRANS. (2018). MOVE [on-line]. Prefeitura de Belo Horizonte. https://prefeitura.pbh.gov.br/bhtrans/informacoes/transportes/onibus/MOVE

Blomley, N. (2003). From “what?” to “so what?”: Law and geography in retrospect. Em J. Holder e C. Harrison (Eds), Law and Geography, Current Legal Issues (pp. 17-34). Oxford Academic. https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199260744.003.0002

Borja, J. e Muxí, Z. (2003). El espacio público: ciudad y ciudadanía. Diputació de Barcelona Electa.

Bringel, B. e Pleyers, P. (2015). Junho de 2013... dois anos depois: Polarização, impactos e reconfiguração do ativismo no Brasil. Nueva Sociedad, (259), 4-17. https://nuso.org/articulo/junho-de-2013-doisanos-depois/

Cardoso, L. (2007). Transporte público, acessibilidade urbana e desigualdades socioespaciais na região metropolitana de Belo Horizonte. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências.

Castells, M. (2012). Networks of outrage and hope: social movements in the Internet age. Polity Press.

Cresswell, T. e Merriman, P. (Orgs.). (2010). Geographies of mobilities: Practices, spaces, subjects. Ashgate. https://doi.org/10.4324/9781315584393

D’Arcus, B. (2013). Boundaries of dissent: Protest and state power in the media age. Routledge.

Domingues, L. B. (2018). Deliberação, conflito e movimentos sociais: um estudo de caso das práticas de organização e tomada de decisão do Tarifa Zero BH. Revista Agenda Política, 06(01), 130–157. https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/165

Domingues, L. B. (2019). Junho de 2013: Atores, Práticas e Gramáticas nos Protestos de Belo Horizonte. [Dissertação de mestrado]. Universidade Minas Gerais. https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/30890

Dowbor, M. e Szwako, J. (2013). Respeitável público...: performance e organização dos movimentos antes dos protestos de 2013. Novos Estudos - CEBRAP, (97), 43–55. https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300004

Fernández, R. (2013). El espacio público en disputa: Manifestaciones políticas, ciudad y ciudadanía en el Chile actual. Psicoperspectivas, 12(2), 28–37. https://doi.org/10.5027/psicoperspectivas-Vol12-Issue2-fulltext-278

Fernández Droguett, R. (2013). Espacio público y manifestaciones políticas en Santiago de Chile: ¿ el regreso del ciudadano? URBS: Revista de Estudios Urbanos y Ciencias Sociales, 3(2), 93–109.

Gohn, M. d. G. (2014a). A produção sobre movimentos sociais no Brasil no contexto da América Latina. Política & Sociedade, 13(28), 79. https://doi.org/10.5007/2175-7984.2014v13n28p79

Gohn, M. d. G. (2014b). A sociedade brasileira em movimento: vozes das ruas e seus ecos políticos e sociais. Caderno CRH, 27(71), 431–441. https://doi.org/10.1590/S0103-49792014000200013

Harvey, D. (2006). The political economy of public space. The politics of public space (pp. 17-34). Routledge.

Hidalgo, D. e Muñoz, J. C. (2014). A review of technological improvements in bus rapid transit (BRT) and buses with high level of service (BHLS). Public Transport, 6(3), 185–213. https://doi.org/10.1007/s12469-014-0089-9

Holston, J. (2013). Cidadania insurgente: Disjunções da democracia e da modernidade no Brasil. Companhia das Letras.

Holston, J. (2016). Rebeliões metropolitanas e planejamento insurgente no século XXI. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais (RBEUR), 18(2), 191–204. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2016v18n2p191

Jacobs, J. (1992). The death and life of great American cities. Vintage Books.

Jennings, A., Rolnik, R., e Lassance, E. (Ed.). (2014). Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? Boitempo Editorial.

Jensen, O. B. (2010). Negotiation in motion: Unpacking a geography of mobility. Space and Culture, 13(4), 389–402. https://doi.org/10.1177/1206331210374149

Kaufmann, V. (2002). Re-thinking mobility: Contemporary sociology. Ashgate.

Kaufmann, V., Bergman, M. M., e Joye, D. (2004). Motility: Mobility as capital. International Journal of Urban and Regional Research, 28(4), 745–756. https://doi.org/10.1111/j.0309-1317.2004.00549.x

Lefèbvre, H. (2007). The production of space. Blackwell Publishing.

Lefèbvre, H. (2008). O direito à cidade (5a ed.). Centauro Editora.

Levy, J. (2009). Os novos espaços da mobilidade. GEOgraphia, 3(6), 7. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2001.v3i6.a13407

Light, A. e Smith, J. M. (1998). Introduction: Geography, philosophy, and public philosophy, and public space. Em The production of public space (pp. 1–16). The production of public space

Lorimer, H. (2016). Walking: New forms and spaces for studies of pedestrianism. Em T. Cresswell e P. Merriman, Geographies of mobilities: Practices, spaces, subjects. Routledge.

Low, S. e Smith, N. (2013). The politics of public space. Routledge.

Maricato, E. (2013). É a questão urbana, estúpido! Em Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. Carta Maior, Boitempo.

McAdam, D., Sewell, W. H. (2001). Temporality in the study of social movements and revolutions. Em R. Aminzade, J. A. Goldstone, D. McAdam, E. J. Perry, W. H. Sewell, S. Tarrow e C. Tilly (Eds.), Silence and voice in the study of contentious politics (pp. 89–125). Cambridge University Press.

McAdam, D., Tarrow, S., e Tilly, C. (2009). Para mapear o confronto político. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, (76), 11–48. https://doi.org/10.1590/S0102-64452009000100002

Melucci, A. e Bomfim, M. d. C. A. d. (2001). A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Vozes.

Mendonça, R. F. e Ercan, S. A. (2015). Deliberation and protest: strange bedfellows? Revealing the deliberative potential of 2013 protests in Turkey and Brazil. Policy Studies, 36(3), 267–282. https://doi.org/10.1080/01442872.2015.1065970

Miles, M. B. e Huberman, A. M. (1984). Qualitative data analysis: A sourcebook of new methods. Sage Publications.

Mitchell, D. (2003). The right to the city: Social justice and the fight for public space. Guilford Press.

Mitchell, D. e Staeheli, L. A. (2005). Permitting protest: Parsing the fine geography of dissent in America. International Journal of Urban and Regional Research, 29(4), 796–813.

Módenes, J. A. (2008). Spatial mobility, inhabitants and places: Conceptual and methodological challenges for geodemography. Estudios Geográficos, 69(264), 157–178. https://doi.org/10.3989/egeogr.2008.i264.83

Nobre, M. (2013). Imobilismo em movimento: da abertura democrática ao governo Dilma. Companhia Das Letras.

Oliveira, M. F. d. e Souki, L. G. (2016). Avanços e obstáculos na formulação da política de mobilidade urbana em Belo Horizonte. Em C. A. P. de Faria, C. V. Rocha e C. A. C. Filgueiras (Orgs.), Políticas públicas na América Latina: Novas territorialidades e processos (pp. 293–317). UFRGS/CEGOV.

Rena, N. e Berquó, P. (2014). Biopolíticas espaciais gentrificadoras e as resistências estéticas biopotentes. Lugar Comum. Estudos de Mídia, Cultura e Democracia, (41), 71–90.

Ribeiro, R. J. (2014). Brazil and the democracy of protest. Matrizes, 8(1), 93. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v8i1p93-118

Ricci, R. e Arley, P. (2014). Nas ruas: a outra política que emergiu em junho de 2013. Editora Letramento.

Rolnik, R. (2013). As vozes das ruas: as revoltas de junho e suas interpretações. [Apresentação]. Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. Boitempo, Carta Maior.

Scribano, A. (2003). Reflexiones sobre una estrategia metodológica para el análisis de las protestas sociales. Sociologias, (9), 64–104. https://doi.org/10.1590/S1517-45222003000100004

Scribano, A. e Cabral, X. (2009). Política de las expresiones heterodoxas: el conflicto social em los escenarios de las crisis argentinas. Convergencia, 16(51), 129–155.

Seguí Pons, J. M. e Petrus Bey, J. M. (1991). Geografía de redes y sistemas de transporte. Síntesis.

Sennett, R. (2001). Vida urbana e identidad personal: los usos del orden. Península.

Sheller, M. e Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and Planning A: Economy and Space, 38(2), 207–226. https://doi.org/10.1068/a37268

Solano, E., Manso, B. P., e Novaes, W. (2014). Mascarados: a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc. Geraç ão.

Tarrow, S. G. (2011). Power in movement: social movements and contentious politics (3 ed). Cambridge University Press.

Tatagiba, L. e Galvão, A. (2019). Os protestos no Brasil em tempos de crise (2011-2016). Opinião Pública, 25, 63–96. https://doi.org/10.1590/1807-0191201925163

Tavares, F. M. M., Roriz, J. H. R., e Oliveira, I. C. d. (2016). As jornadas de maio em Goiânia: para além de uma visão sudestecêntrica do junho brasileiro em 2013. Opinião Pública, 22(1), 140–166. https://doi.org/10.1590/1807-01912016221140

Tilly, C. (1993). Contentious Repertoires in Great Britain, 1758-1834. Social Science History, 17(2), 253–280. https://doi.org/10.2307/1171282

Tilly, C. (2008). Contentious performances. Cambridge University Press.

Touraine, A. (1990). Movimientos sociales hoy. Editorial Hacer.

Touraine, A. (1996). O que é a democracia? Vozes.

Urry, J. (2007). Mobilities. Polity.

Vasconcellos, E. A. d. (2001). Urban transport, environment, and equity: The case for developing countries. Earthscan.

Veloso, A. (2014). O ônibus, a cidade e a luta: a trajetória capitalista do transporte urbano e as mobilizações populares na produção do espaço. [Dissertação de mestrado]. Universidade Minas Gerais.

Wunderlich, F. M. (2008). Walking and Rhythmicity: Sensing Urban Space. Journal of Urban Design, 13(1), 125–139. https://doi.org/10.1080/13574800701803472

Zukin, S. (2008). Consuming authenticity: From outposts of difference to means of exclusion. Cultural Studies, 22(5), 724-748. https://doi.org/10.1080/09502380802245985