Ejidos mexicanos, cooperativas habitacionais uruguaias e quilombos brasileiros são formas de propriedade coletiva latino-americanas, produtos de distintos processos e lutas sociais, que compartilham o fato de serem normatizadas pelo Estado e incorporadas nas políticas públicas de seus países. Neste artigo, refletimos sobre algumas das contradições envolvidas nos percursos de institucionalização da propriedade coletiva nestes três casos. A investigação foi desenvolvida a partir de visitas de campo, entrevistas com participantes locais e pesquisadores do tema, além de revisão bibliográfica. Apoia-se na produção acadêmica internacional nos temas da propriedade coletiva, autonomia e comuns, especialmente os autores que abordam esses temas como práticas instituintes. Por um lado, a institucionalização da propriedade coletiva pelo Estado limita e controla as possibilidades de autonomia na gestão dos territórios, buscando enquadrá-los no léxico proprietário. Por outro, como produto e plataforma de lutas sociais, abre possibilidades de desenvolvimento de sujeitos políticos coletivos, processos de autonomização e comunalização. Quanto mais estas práticas estão presentes nas dimensões de trabalho, produção, reprodução social e gestão territorial coletiva, mais condições esses sujeitos e processos têm de instituir um devir-contra-proprietário.
Abbadie, L., Bozzo Clara, L. C., Nahoum, B., & Toran, S. (2022). La importancia de los colectivos. Análisis de dos décadas de cooperativas de vivienda por ayuda mutua, 1990-2012. Universidad de la República, Ediciones Universitarias.
Alden Wily, L. (2018). Collective land ownership in the 21st century: overview of global trends. Land, 7(2), 68. https://doi.org/10.3390/land7020068
Almeida, M. (2022). Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas. Elefante.
Antão, R. C. N. & Ribeiro, T. F (2020). O cooperativismo habitacional e a gestão coletiva da propriedade como garantia da segurança da posse de populações vulnerabilizadas: o community land trust. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, 7(14), 119-132. https://doi.org/10.5902/2359043241172
Aravena, S., Arébalo, M., Bazoberry, G., Blanco, C., Lago, L. C. d., Estrada, L., Fernández Wagner, R. E., Florian, A., Franco, J., García Miranda, K., García Quispe, R., González, G., Guadamuz Madriz, O., Iracheta, A., Landaeta, G., Miyashiro Tsukazan, J., Morales, R., Mora Montenegro, J., Morán, A., … Trundle Fagoth, L. E. (2014). La vivienda, entre el derecho y la mercancía. Las formas de propiedad en América Latina. Ediciones Trilce.
Arellano, J. (1997). Estrategia y guerra de baja intensidad. Los grupos paramilitares en Chiapas. Recerca: Revista de Pensament i Anàlisi, (1), 77-101.
Arnold, P., Díaz, J., & Algoed, L. (2020). Propiedad colectiva de la tierra en América Latina y el Caribe, historia y presente. Em J. E. Davis, L. Algoed, e M. E. H. Torrales (Eds.), La inseguridad de la tenencia de la tierra en América Latina y el Caribe. El control comunitario de la tierra como prevención del desplazamiento (pp. 1-22). Terra Nostra Press.
Arruti, J. M. (2008). Quilombos. Jangwa Pana, 8(1), 102-121.
Azuela, A. (1989). La ciudad, la propiedad privada y el Estado. Colegio de México.
Azuela, A. (1996). Evolución de las políticas de regularización. Em A. Azuela e F. Tomas, El acceso de los pobres al suelo urbano (pp. 185-194). Centro de Estudios Mexicanos y Centroamericanos. https://doi.org/10.4000/books.cemca.934
Azuela, A. (2021). El ejido y la urbanización del campo. Territorialización y poder local en la región de Los Tuxtlas, México. Revista Latinoamericana de Estudios Rurales, 6(11).
Azuela, A. & Cruz Rodríguez, M. S. (1989). La institucionalización de las colonias populares y la política urbana en la ciudad de México (1940-1946). Sociológica, 4(9).
Bachelot, B. (2020). Libre determinación y megaproyectos: el Consejo Regional Indígena y Popular de Xpujil (CRIPX) frente al Tren Maya. Nuestrapraxis. Revista de Investigación Interdisciplinaria y Crítica Jurídica, 4(7), 105-127. https://doi.org/10.52729/npricj.v4i7.90
Baitz, R. (2012). Uma aventura pelos elementos formais da propriedade: nas tramas da relativização, mobilidade e abstração, à procura da contra-propriedade [tese de doutorado]. Universidade de São Paulo. https://doi.org/10.11606/T.8.2012.tde-27062012-150527
Baravelli, J. E. (2007). O cooperativismo uruguaio na habitação social de São Paulo. Das cooperativas FUCVAM à Associação de Moradia Unidos de Vila Nova Cachoeirinha [dissertação de mestrado]. Universidade de São Paulo. https://doi.org/10.11606/D.16.2007.tde-20052010-141433
Bartra, A. (1979). El panorama agrario en los 70. Investigación Económica, 38(150), 179-235.
Bernal Mendoza, H. (2001). La territorialidad y el futuro de nuestra institución: perspectiva desde la etapa final del PROCEDE. Estudios Agrarios, 18, 179-203.
Bispo dos Santos, A. (2015). Colonização, quilombos, modos e significados. INCT, CNPq, UnB.
Bispo dos Santos, A. (2018). Somos da terra. Piseagrama, (12), 44-51.
Brasil. (1988). Constituição - ato das disposições constitucionais transitórias.
Brasil. (2003). Decreto nº 4.887.
Cabrera, M. (2021). La lucha del área de género de FUCVAM por la cotitularidad en las viviendas cooperativas. El Solidario, FUCVAM. https://www.fucvam.org.uy/el-solidario/actualidad-genero/la-lucha-del-area-de-genero-de-fucvam-por-la-cotitularidad-en-las
Dardot, P. & Laval, C. (2015). Propriedade, apropriação social e instituição do comum. Tempo Social, 27(1), 261-273. https://doi.org/10.1590/0103-207020150114
Dardot, P. & Laval, C. (2017). Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. Boitempo Editorial.
Durand, J. (1983). La ciudad invade el ejido. Ediciones de La Casa Chata.
Federici, S. (2010). Feminism and the politics of the commons. Em Team Colors Collective (Eds.), Uses of a whirlwind: Movement, movements, and contemporary radical currents in the United State. AK Press.
Ghilardi, F. H. (2017). Cooperativismo de moradia em Montevidéu e autogestão habitacional no Rio de Janeiro: as bases sociais, políticas e econômicas da produção social do hábitat na América Latina [tese de doutorado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Gomes Rocha, O. (2024). Território, subjetividade e trabalho: chaves para uma leitura geográfica sobre o comum. GEOgraphia, 26(56). https://doi.org/10.22409/geographia2024.v26i56.a56170
González, G. (2013). Una historia de FUCVAM. Ediciones Trilce.
Gordillo, G. (1997). La evolución de los derechos de propiedad agraria en México. FAO.
Harvey, D. (2012). Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. Martins Fontes.
Hernández Castillo, R. A. & Rueda, E. C. (2021). ¿Independencia en tiempos del tren maya? Continuum de violencias coloniales contra los indígenas en el México contemporáneo. Mexican Studies/Estudios Mexicanos, 37(3), 394-426. https://doi.org/10.1525/msem.2021.37.3.394
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2023). Censo demográfico 2022. Quilombolas: primeiros resultados do universo.
La madre del borrego: los recursos. Por un verdadero Fondo Nacional de Vivienda. (2022). El Solidario FUCVAM. https://www.fucvam.org.uy/el-solidario/actualidad/por-un-verdadero-fondo-nacional-de-vivienda
Lago, L. C. (2019). Os impasses da propriedade coletiva e a possibilidade de coletivização pelo trabalho. Em L. Ganz e A. P. Baltazar (Orgs.), Uma composição do comum: entrevistas (pp. 134-145). Jaca.
Lazarini, K. (2023a). Notas sobre a propriedade coletiva da terra no Brasil. ANPUR. http://anpur.org.br/wp-content/uploads/2023/05/st14-08.pdf
Lazarini, K. (2023b). Propiedad colectiva y uso común de la tierra en Brasil y México: prácticas territoriales actuales entre conflictos, resistencias y transformaciones [ponencia]. VI Seminário da RELATEUR. Cidade do México.
Leite, I. B. (2008). O projeto político quilombola: desafios, conquistas e impasses atuais. Revista Estudos Feministas, 16(3), 965-977. https://doi.org/10.1590/s0104-026x2008000300015
Lima, P. H. B. M. (2023). Um inventário de experiências urbanas de moradia em propriedade coletiva e autogestão na América Latina hoje. ANPUR. https://anpur.org.br/wp-content/uploads/2023/05/st11-58.pdf
Machado, G. (2022). Habitar las experiencias: aprendizajes y sociabilidad comunitaria en las cooperativas de vivienda por ayuda mutua. Universidad de la República, Ediciones Universitarias.
Macpherson, C. B. (1978). Property: mainstream and critical positions. University of Toronto Press.
Marić, M. (2018). Property is a verb - on social ownership in Yugoslavia. ARCH+ Journal for Architecture and Urbanism. The Property Issue. Ground Control and the Commons, 70-77.
Martínez, M. A. (2020). Urban commons from an anti-capitalist approach. PaCo Partecipazione e Conflitto, 13(3), 1390-1410. https://doi.org/10.1285/i20356609v13i3p1390
Marx, K. (2011). Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858. Boitempo Editorial.
Méndez, M. (2022). El llamado del campo. Catolicismo, ruralidad y vivienda social en el Uruguay de los 60. Registros. Revista de Investigación Histórica, 18(1), 63-86.
Modonesi, M. (2021). O conceito de autonomia no marxismo contemporâneo. Revista Direito e Práxis, 12(1), 707–733.
Moura, C. (1988). Rebeliões da Senzala. Mercado Aberto.
Moura, C. (2021). Quilombos: resistência ao escravismo. EdUESPI.
Nahoum, B. (2013). Algunas claves. Reflexiones sobre aspectos esenciales de la vivienda cooperativa por ayuda mutua. Ediciones Trilce.
Peña Rodriguez, M. L. (2010). Acerca de la acción comunal como acción colectiva. Em M. L. Peña Rodriguez, El programa CINVA y la acción comunal (pp. 120-147). Universidad Nacional de Colombia.
Pérez-Castañeda, J. C. & Mackinlay, H. (2015). ¿Existe aún la propiedad social agraria en México? Polis México, 11(1), 45-82.
Pineda, C. E. (2021). Pensar las autonomías: otros caminos de emancipación. Em A. Hopkins e C. E. Pineda (Comps.), Pensar las autonomías. Experiencias de autogestión, poder popular y autonomía (pp. 9-20). Bajo Tierra A.C.
Rolnik, R. (2017). La guerra de los lugares. La colonización de la tierra y la vivienda en la era de las finanzas. LOM Editores.
Rolnik, R. (2019). Paisagens para renda, paisagens para vida: disputas contemporâneas pelo território urbano. Revista Indisciplinar, 5(1), 18–43.
Sapriza, G. & Sagasaeta, G. (2022). Construir comunidad en dictadura: historias de mujeres cooperativistas. FUCVAM, Área de Género.
Sosa, M. N. (2015). Ser usuarios: procesos de significación de lo colectivo de la propiedad en cooperativistas de viviendas por ayuda mutua en Uruguay [tesis de magister]. Universidad de La República de Uruguay.
Thwaites Rey, M. (2004). La autonomía como búsqueda, el Estado como contradicción. Prometeo Libros.
Tonucci Filho, J. B. M. (2017). Comum urbano: a cidade além do público e do privado [tese de doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais
Torres, M., Cunha, C. N., & Guerrero, N. R. (2020). Ilegalidade em moto contínuo: o aporte legal para destinação de terras públicas e a grilagem na Amazônia. Em A. U. Oliveira, A grilagem de terras na formação territorial brasileira. FFLCH/USP. https://doi.org/10.11606/9786587621326
Torres-Mazuera, G. (2009). La territorialidad rural mexicana en un contexto de descentralización y competencia electoral. Revista Mexicana de Sociología, 71(3), 453-490.
Torres-Mazuera, G. (2015). Mantener la ambigüedad de lo común: los nuevos y disputados sentidos del ejido mexicano en la era neoliberal. Revista Colombiana de Antropología, 51(1), 27-51. https://doi.org/10.22380/2539472x26
Torres-Mazuera, G. (2016). La común anomalía del ejido posrevolucionario. Disonancias normativas y mercantilización de la tierra en el sur de Yucatán. Publicaciones de la Casa Chata.
Treccani, G. D., Benatti, J. H., & Monteiro, A. N. G. (2020). Agravamento da violência no campo: Reflexões sobre a política de regularização fundiária. Em Conflitos no Campo Brasil.
Uruguai. (1968). Ley nº 13728. Plan Nacional de Viviendas. IMPO. https://www.impo.com.uy/bases/leyes/13728-1968
Varley, A. (1994). ¿Clientelismo o tecnocracia? La lógica política de la regularización de la tierra urbana, 1970-1988. Revista Mexicana de Sociología, 56(4), 135–164. https://doi.org/10.2307/3541086
Vigésima e última parte: o comum e a não-propriedade. Enlace Zapatista. (2024). https://enlacezapatista.ezln.org.mx/2024/01/05/vigesima-e-ultima-parte-o-comum-e-a-nao-propriedade/