Após um longo período de desinvestimento e declínio, nos últimos anos tem-se assistido a um crescente interesse na reabilitação dos mercados municipais em países europeus e sul-americanos, culminando frequentemente na gentrificação daqueles equipamentos comerciais. A nossa hipótese de trabalho é que alguns agentes na busca por boas práticas de planeamento urbano utilizam como referência certos mercados que, por via dos moldes usados para reabilitação, promovem processos de gentrificação. Face a uma aparente contradição entre os estudos académicos que confirmam a gentrificação dos mercados municipais reabilitados e a prática dos agentes políticos que encaram o atual molde de reabilitação como uma boa prática de planeamento urbano, temos como objectivo analisar e discutir no atual processo de reabilitação de mercados municipais em Portugal. Em termos metodológicos, este trabalho é suportado por uma abordagem qualitativa, baseando-se na análise teórica acerca da temática em causa e em entrevistas realizadas a responsáveis de três Câmaras Municipais portuguesas, assim como duas entrevistas a empresas de consultoria envolvidas no processo. Recorrendo ao quadro concetual da gentrificação para auxiliar na interpretação dos resultados, concluímos que a motivação para a reabilitação dos mercados é baseada numa leitura dos mercados em declínio e que os atuais moldes de intervenção se devem a estratégias de benchmarking e de transferências de modelos entendidos como sendo boas práticas, destacando-se, ainda, o papel das empresas de consultoria na sua disseminação.